Tensionar ou Ceder?

Eu sempre digo que uma das bases da relação é a dualidade tensão x troca.
O que quero dizer com tal afirmação é que é necessário em qualquer relação saber a medida entre tensionar ou ceder.
Não entendam tensão com cobranças ou encheção de saco, a tensão que eu falo passa muito mais por uma atitude do que por palavras.
Uma pessoa que nunca chega no horário estipulado pelos pais tensiona muito mais do que quem chega sempre no horário reclamando como um chato. Com relação a este primeiro os pais vão ter que tomar uma atitude, que pode ser por de castigo ou coisa do gênero, mas com o tempo terão que aceitar esta nova realidade, ainda mais se o atraso for sistemático e organizado, sempre um atraso de uma hora por exemplo, o que demonstrará que o horário que a pessoa entende ser o seu é aquele e não o estipulado, o caos não ajuda aqui, a tensão deve ser organizada para não gerar um problema sem solução. Com relação ao chato que chega em casa no horário enchendo a paciência de todo mundo, os pais vão brigar, todo mundo vai se estressar, mas no dia seguinte o horário estipulado será o mesmo.
O outro lado também tem que existir, a concessão é necessária, fazer um pouco a vontade dos outros, fazer com que entendam que apesar de estar querendo mais espaço você ainda é aquele com quem se pode contar é fundamental. Usando o mesmo exemplo da relação entre pais e filhos, é simplesmente nunca perder a ocasiões que a familia considere importante, acompanhar os pais em situações em que estes precisem de apoio e outras coisinhas que sejam relevantes.
Isto vale para qualquer relacionamento, contudo em graus diferentes, se você tensionar demais em casa seu pai pode estourar, mas ainda será seu pai, se você tensionar demais com a namorada ou amigo, pode perde-los, então a medida tem que ser bem pesada e pensada.
Com relação específica ao namoro, tensionar muitas vezes será falar um tanto, demonstrar que não vai aceitar determinados comportamentos ou situações, manter comportamentos já existentes no início do namoro ou simplesmente fazer algo que sabe que vai incomodar, simplesmente com o intuito de demonstrar que aquilo pode acontecer, deixar claro que quando acontecer aquilo não deve ser o fim do mundo e este lado também é você.
Exemplos disso são as saídas com os amigos, a pratica de esporte, não aceitar ciúmes ou cobranças.
Um erro comum em casais é a falta de imposição de limites no início do relacionamento, gerada por uma necessidade de se mostrar bom companheiro, aliado ao medo de perder. Contudo este raciocínio funciona como uma bomba relógio, haja vista que os pequenos incômodos, facilmente aturados nos primeiros meses se tornam verdadeiras torturas com o passar do tempo, aquele tempinho com os amigos, que não faz falta na fase da paixão desvairada, vai lhe matar de solidão com o tempo. E o pior é que seus amigos, por mais amigos que sejam, vão se adaptar a sua ausência e a tendência é que deixem de ter tempo para você, quando você os procurar eles vão ter outros compromissos que não lhe incluem.
Contudo no relacionamento amoroso, assim como em qualquer outro é necessária a contrapartida, que no caso específico é a segurança, carinho e compreensão, demonstrações públicas de afeto também são muito úteis. A determinação de limites também ajuda nisso, já que todos ficam seguros quanto as características do relacionamento e por isso sabem onde estão pisando, sem medo de fazer uma besteira e isso virar um pandemônio.
Por isso recomendo aos casais em início de namoro, imponham o máximo de limites agora, depois vai ser muito complicado dizer: "amor, sabe este comportamento que você tem a anos? Ele me incomoda pra caralho." a resposta mais comum vai ser um "você nunca reclamou antes, porque está te incomodando agora?" e você vai ter que convencer que sempre se incomodou com aquilo, mas aturava para não gerar atrito, mas que agora é insuportável e a pessoa vai ter que mudar de vez! Não acho que dê muito certo.