quarta-feira, 11 de julho de 2012

CONTOS DE UM GUARDIÃO – MINHA PEQUENA


Sempre fora livre, sempre viajando, se ferindo, se arriscando, amando, sofrendo, matando, mas um dia foi surpreendido, voltou para os braços de um dos seus maiores amores e não a encontrou, encontrou apenas sua herança, não a conhecia, aquela coisa pequena e suja, ranhenta e magrela, seus braços mais pareciam dedos, de tão finos, perguntou-se como aquilo teria vingado, perguntou-a sobre a sua mãe e soube que morrera, preferiu não perguntar de que, sentiu vontade de chorar, amara aquela mulher, mas seu contato fora breve, mas não podia se permitir demonstrar tamanha fraqueza para aquela pequena.

Tinha visto força nela, o que o assustou. Por debaixo daqueles cachos negros estavam um olhar penetrante, forte, de quem sabe o que quer e que foi bem ensinada, apesar da pouca idade. Ficou encantado, seu espirito era guerreiro, disputava o que queria com fervor e quando perdia não mostrava lagrimas e sim os dentes, com ferocidade.

Pousou por alguns dias naquele lugar, alimentou-se com a comida daquelas pessoas que criavam a filha daquela que cativou eternamente seu coração, deitou-se com algumas mulheres que ali viviam, mas não encontrou em nenhum braço aquela energia, ficou triste, ajudou no que pôde, como forma de pagar sua estada, se afeiçoou aquela menina, tão pequena e já dominava as ervas, sabia usar um athame como um garoto brinca com sua espada, era mirrada, mas seria forte, uma mulher de fibra, um dia, quando crescesse, se crescesse.

Ela o fazia lembrar demais a mãe da criança, tanto que doía, seus cabelos negros e pele alva eram iguais ao que um dia ele acariciou, olhar para aquela menina incomodava e trazia belas lembranças, apesar do espirito desta criança ser completamente diferente, muito mais arredia e teimosa, não conseguia imaginar como a sua mãe conseguiu ensinar tanto a alguém tão turrona.

Um dia a estadia chegou ao fim, as feridas cicatrizaram, o tempo melhorou, apesar do prazer da companhia era chegada a hora de partir, ao anunciar sua partida recebeu uma notícia que mexeu com sua cabeça, a avó da criança lhe chamou e contou-lhe que aquela criança era fruto da sua união com sua filha, que aquela coisa pálida e mirrada era fruto da sua carne, do seu sangue e do seu amor por aquela morena esguia, ficou tonto, mas entendeu a empatia que sentiu por aquela menina morena, como sua mãe, como seu amor.

Avisou-lhe também que não haveria quem cuidasse da sua criança por muito tempo, pois já era idosa e não haveria outras pessoas e quem confiar sua seurança, deixando clara, assim, sua intenção, ele aceitou o fardo, sabia o que fazer, levaria para um lugar onde ela seria ensinada a ser uma mulher e uma guerreira, como seu espirito gritava que queria, ao afirmar que levaria a criança, surgiu dum canto qualquer, num pulo, aquela coisa branca voando em sua direção, abraçando-o, chorando, dizendo que sua mãe já havia lhe falado sobre ele e que o reconheceu assim que o viu.

Contudo uma coisa o preocupava, não seria uma viagem curta, não seria uma viagem tranquila, muito menos segura, para chegar onde queria, teriam que ser como a sombra, mas alguém tão grande como ele e uma criança estabanada como ela, dificilmente passariam despercebidos.

Meses se passaram até alcançarem o objetivo, neste período se tornaram ainda mais unidos, ensinou-lhe a manusear o athame, a se defender em caso de necessidade, e o conhecimento dela sobre ervas acabou o salvando um dia, quando um corte de espada foi mais fundo do que era possível suportar, foi ela quem tratou sua ferida e sua febre. Fazendo-o lembrar e sentir falta, mais uma vez, do calor da pele de sua mãe.

Quando não estava concentrada em suas praticas ou buscando ervas para alimentar-se, ela ria, e como ria, um sorriso grande, com dentes alvos e som engraçado, era bom se apaixonar por aquela criança, sentir o amor que as pessoas sempre falavam, morreria por ela, mesmo a morte certa, seria enfrentada para que aquela criança pudesse sorrir muitas vezes mais.

Um dia esta promessa seria cobrada.

sábado, 7 de julho de 2012

Quase Contos, Quase psicografados de um Quase Cavalo

Muita gente tem me perguntado se os contos que tenho escrito, ou quase contos, por faltar características que seriam essenciais aos contos, são de minha autoria. Bem... Estes contos são baseados em feelings, insights que tenho. São descrições da forma como eu vejo a origem de certas relações cármicas que tenho hoje. 

Dentre os contos já escritos, pode-se dizer que retratam a minha relação com 2 ou 3 pessoas cada conto, sendo uma principal, que dá a cara aos personagens, que define qual será a relação entre eles e outras relações secundárias que caracterizarão o personagem, um traço de personalidade, uma característica, pode ter vindo de qualquer um. Haverão também contos que trarão a relação com quem nem conheci ainda, muito mais sentidos e menos racionalizados que outros que já apareceram.

Antes que me questionem o por quê deste título, digo que são quase psicografados porque a origem dos meus insights vêm da minha religião, do que eu acredito ser meu Guia, que seria um espirito que me acompanha e acaba por interferir em minhas relações e sensações, estes contos são sobre mim e sobre ele, sobre a história dele e sobre como ela me influencia. Não entro num transe para escrever, ao contrário, a ideia vem, e começo uma espécie de negociação poética, onde vou tentando descrever de forma que me pareça bonita e forte aquilo que está sendo mostrado para mim, a explicação que me é passada é traduzida por mim e poetizada por mim, ou seria ainda mais crua.

O quase cavalo é mais uma piada sobre como se dá a minha relação com meu Guia, fazendo uma referência ao Candomblé, que tem um processo de passagem semelhante ao nosso e que nomeia aqueles que o fazem de "cavalos", e por isso me permito usar o termo "quase" para deixar clara a diferença.

Desta forma, agradeço a meu Guia, um guardião, um Kah'moh-hey, por me permitir entender-me melhor através do entendimento da sua influência em minha vida, dando-lhe também os créditos por cada conto escrito neste blog!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

CONTOS DE UM GUARDIÃO – A QUEDA DO COLOSSO


Ambos acreditavam serem invencíveis, inúmeras batalhas vencidas, muitas lado a lado, irmãos de armas sabiam suas forças e acreditavam que não havia fraquezas.

O machado de guerra era considerado invencível, seu portador só poderia ser derrubado por flechas, mas não este, imenso, assustadoramente forte, não seria apenas uma flecha que o derrubaria, ele ainda dividiria muitos oponentes em dois antes de tombar.


De outro lado havia as duas espadas, a habilidade requerida para o manuseio de duas armas, menores que as comuns, era imensa. A quantidade de cicatrizes demonstrava o quanto era arriscado chegar tão perto do inimigo, mas lhe dava experiência, sabia que viver ou morrer estava determinado por sua habilidade, por sua sagacidade e tenacidade, não pelo comprimento de sua arma. Também era imenso, com barba e cabelos fartos, escondendo algumas cicatrizes no seu rosto, suportaria muitos ferimentos antes de cair, mas sabia, ninguém era capaz de suportar a uma machadada, ser acertado por um machado tinha apenas dois resultados, ser dividido em duas partes e morrer imediatamente ou dar o azar de que a lâmina apenas passe em seu ventre, lhe esviscerando e morrendo lentamente, agonizando.


Estes dois colossos estavam em lados opostos agora, suas mulheres estavam apreensivas, algumas já choravam, pois sabiam que apenas um dos dois sobreviveria, aquelas que eles compartilharam não sabiam sequer o que esperar, para que rezar, senão para que ambos desistissem deste combate suicida.

A força do machado contra a velocidade das espadas, o machado parecia lento, mas isto era compensado por seu alcance, as espadas rápidas, mas precisavam alcançar o oponente, ambos hesitaram por um instante e no momento seguinte aquele encontro teve seu desfecho, o machado girou, as espadas estocaram, o sangue jorrou e alimentou o solo, a lâmina ensanguentada do vencedor pingava, bem como lágrimas dos olhos deste. A dor estampada nos olhos do derrotado fazia sofrer a todos e assim descobriram que mesmos colossos caem.