quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

CONTOS DE UM GUARDIÃO - O DIA DA PRESA


Chovia, agora a sorte estava ao seu lado, fora perseguido por dias sem descanso, dormindo na copa de arvores e cavernas, correndo o quanto podia, mas agora, com a chuva, ele se sentia confortável.

A água que escorria em seus ombros limpava suas feridas, o frio regulava sua respiração, e seus ouvidos acostumados continuavam a ouvir seus inimigos, apesar da torrente, a roupa encharcada fora deixada de lado, era necessário ser leve e rápido, bastariam as gêmeas.


A escuridão encobria seu corpo, a chuva forte revirava seu rastro e a tempestade e trovões o tornavam silencioso.

Agora ele deixava de ser caça e virava caçador, sentindo cada gota em seus ombros ele respirava ofegante enquanto esperava suas presas que ainda acreditavam estar caçando, sem saber o quanto estavam enganados.

Alguns dias de busca tinham lhes retirado a vontade de lutar, a sede de sangue. A privação os havia debilitado, e a raiva, que os colocou naquela busca, já não ardia da mesma forma.

Mas não para ele, o seu fogo nascia da água e agora ele fervia, a privação e o cansaço foram lavados de sua memória e a única coisa que ele sentia era o desejo de fazer suas lâminas experimentar a carne e o sangue daqueles que o fizeram abandonar seu ultimo pouso.

Agora faltava pouco, ele podia sentir sua chegada, a cada lampejo Thor lhe mostrava seus inimigos, a cada trovoada ele se posicionava melhor, usando o som do ribombar de Mjölnir como disfarce para seus passos.

Agora eram apenas 3, outros haviam desistido, talvez lhes faltasse coragem para seguir numa tempestade como esta, ou sobrasse astúcia para saber que não era seguro. Muitos conheciam a história, o colosso sempre estava em casa quando chovia, tribos inteiras sabiam que a sua chegada num dia de chuva podia ser sinal de uma catástrofe, ou de uma benção.
Ele conhecia aquele tipo de chuva e ela não iria passar, não pelos próximos 2 ou 3 dias, ainda haveria tempo de voltar e alcançar alguns daqueles que se sentiam seguros com a volta para casa.


Mas agora a prioridade era outra, haviam 3 inimigos que deveriam ser eliminados imediatamente, perder tempo planejando a próxima caçada tiraria seu foco e atrapalharia.
Respirou fundo, eles faziam exatamente o esperado, aproximavam-se devagar, buscavam pegadas que não existiam, tentavam enxergar, mas num flash não sabiam para onde olhar.
Ele chegou devagar, por trás, a formação deles era ruim, estavam em um triangulo mal formado, apenas um na retaguarda, e este morreu sem sequer saber que estava sendo caçado.

Os outros dois se assustaram, mas tiveram tempo de reagir, era o que ele queria, se desejava o Valhalla, não seria simplesmente emboscando seus inimigos que o alcançaria.
Era injusto, ele sabia, apenas 2 contra ele, suas espadas gêmeas e a chuva, Thor estava do seu lado, seria um massacre.

Seus inimigos viram um gigante nu, portando um par de espadas de laminas curvas, aparentemente pequenas demais para alguém daquele tamanho, mas que, quando usadas juntas sua velocidade compensava seu tamanho e explicava sua fama.

Ele se divertiu, os massacrou enquanto sorria, lembrou-se da sua família, de quantas vezes seu primo lhe mostrou como matar, os respeitou, obviamente, como aprendera, seus corpos estavam retalhados, mas suas cabeças inteiras, estes guerreiros encontrariam o caminho, seriam levados para o seu paraíso e em breve os encontraria novamente e, quem sabe, lutariam todos juntos no ragnarok.

Os matou de perto, como quase sempre fazia, seus lábios quase tocando a pele do inimigo inerte, olhos nos olhos, mas apenas os seus com vida.

Ele estava ferido, muito pouco, suas laminas estavam limpas por causa da chuva, ele mal ofegava com o esforço recente e, após um minuto para saquear o que lhes havia de valor, voltou-se para o caminho já percorrido e voltou a trilhá-lo.

A caçada precisava continuar, ele descansaria após acabar com a ameaça aos seus, aqueles que o caçaram não deveriam chegar ao seu destino, se isso ocorresse mais entes queridos morreriam.

Mas esta caçada será contada em outro momento...

Um comentário: