terça-feira, 22 de maio de 2012

CONTOS DE UM GUARDIÃO - ENCONTRO


Ela lhe viu lutar e gostou, da sua ferocidade, do sorriso em seus lábios ao enfrentar a morte, a sua ousadia lhe arrepiou a nuca, sua virilidade e força deixaram-na de pernas tremulas e seu sexo estava pronto, numa enxurrada de  temor e excitação.
  
 Não suportava esperar o momento em que poderia tratar seus ferimentos e cavalgar em seu corpo ainda febril, fitar sua expressão de prazer e dor, pois ainda naquela noite, ele seria seu homem, seu guerreiro, seu Deus, e ela seria sua mulher, sua sacerdotisa e sua Deusa.
...

Entre sangue e suor ela deitou sobre ele, num ultimo suspiro de gozo, sabia que estaria grávida, poderiam ter muitos filhos juntos, mas teriam apenas um, seus caminhos estavam determinados, cruzavam-se, mas não se alinhavam. Aquela criança seria o vinculo eterno, a lembrança do dia em que ele sobreviveu para se entregar a ela, a perfeita réplica de como eles foram um, em mente e corpo, tanto no campo de batalha, onde suas orações o inspiraram e deram força, quanto na cama, quando seu corpo o aqueceu e curou.
...
Levou tempo para que ele estivesse pronto para partir, água pura, ervas, orações e o calor do seu corpo o ajudaram a levantar. Ele lembrava daquela primeira noite, e de todas as outras, em que ela deitou-se com ele e aplacou sua febre com o calor de seu sexo, de como as feridas se abriram com o vigor desta comunhão.

O que apenas ela lembrava eram as noites de alucinações, com choro baixo, com medo da solidão e do escuro que apenas se aplacavam com o cuidado e calor de seu corpo, dos dias em que aparentemente ele morreu, aplicando técnicas que aprendeu em suas jornadas para se manter escondido, ainda que dormindo.

Mas naquele dia ele estava de pé, parecia que a luta jamais tinha ocorrido, exceto pelas feridas que ainda não estavam completamente cicatrizadas, o sorriso largo de quem não sentia mais dor alguma, como se a morte não fosse algo a ser temido, mascara que aprendeu a usar em suas andanças. E naquela noite festejaram, beberam, comeram e dançaram, como dançaram! Novamente eram um, olhares e sorrisos os uniam de tal forma que mesmo aquela dança não coreografada parecia natural, como se fossem os parceiros mais antigos, e talvez o fossem!


No fim da noite se uniram uma vez mais, e foi a primeira que sua condição física lhe permitiu guiar, e ele o fez com vontade, até quase desmaiar, sabendo que aquela provavelmente seria a ultima vez que seus corpos se uniriam, ao menos nesta vida.

Ao acordar ela sequer precisou virar-se para saber que estava só, não sentia mais aquele calor e entendia a natureza de seus caminhos, não houveram despedidas nem um “eu te amo”, não foi necessário, suas almas falaram tudo que havia para se falar e estariam conectadas, marcadas de tal forma que por muitas vidas ainda iriam se encontrar e desencontrar, numa busca incessante por aquele pedaço que eternamente lhe faltaria.

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