Brincavam todos, riam todos e bebiam os dois, ali ele se
desarmou e foi feliz por um tempo, todo o tempo que ali esteve, até a
felicidade lhe chamar em outro lugar.
Algumas vezes ensinou os segredos de ser um guerreiro a um
garoto à porta de sua morada, em outras vezes foi escolhido para transformar
uma menina em mulher, e era bom em ambas as coisas, tinha aprendido a ensinar
com o melhor professor, se orgulhava disso.
Ela ria de tudo isso, não sentia ciúmes, era o que mais lhe
atraia nela, sua segurança, sua certeza de que ele era seu, mesmo quando se
deitava com outras, e ela estava certa, não tinha apenas uma dona, mas nenhuma
tinha tanta segurança da sua posse. E ela era dele também, não só dele, mas ele
era especial, quantas vezes ela saiu dos braços de outro para lhe receber?
Inúmeras! Sempre se divertiam com isso, algumas vezes isso lhe trouxe
problemas, nada que as espadas não fossem capazes de resolver, mas não sem o custo
de sangue.
Nunca se importou com as outras, nem com as que, com prazer,
ela o conduziu para exercer seu papel de Deus, nem com as que ele encontrou no
seu caminho solitário, ao contrário, se divertia ao lhe ver sofrer de amores ou
contar-lhe suas aventuras amorosas e sexuais, não recordava de ter
compartilhado tanto com alguém, talvez por compartilhar tão pouco.
Ao seu lado era feliz. Mesmo quando não estava ali por
prazer, quando as feridas abertas pediam sua mão agradável e cuidadosa, nenhuma
das suas mulheres era tão próxima, tão amiga e tão mulher. A liberdade que
sentia ao seu lado o prendia a ela, saber que podia ir e vir quando quisesse
sempre lhe deu prazer em ficar.
Contudo, nunca a entendeu, nunca pode lhe dar o presente que
ela sempre desejou, os deuses assim não quiseram, mas apesar disto ela parecia
sempre feliz, sendo um exemplo de mestra, mãe, irmã, mulher e amiga. Contudo, alguma frustração aparecia em seus olhos, sempre que
suas regras voltavam, mês a mês. Ele pedia aos Deuses para atender-lhe o
anseio, permitir que dela viesse aquilo que ela sempre cuidou do alheio, talvez
não tenha sido lhe dada esta dádiva, justamente para que sua função, a de
cuidar, fosse melhor exercida, sem prediletismos.
Sempre que pode e quis, ela o acompanhou em suas viagens e
perigos, não de perto o suficiente para se por em risco, mas nunca longe o
suficiente para não ser notada, e lhe socorrer, quando preciso, algumas vezes
se esconderam juntos, assustados, corações saltando pela boca, sua companhia o
salvou diversas vezes, pois seus ferimentos seriam mortais sem nenhum
tratamento.
Mas o inevitável um dia os alcançou, ele era necessário em
outro lugar, abandonada ela cuidou daqueles que ainda não haviam aprendido a se
cuidar, enquanto ele foi reforçar as fronteiras da sua raiz, seu primo
precisava dele, seu amigo e irmão, e assim ele voltou para aquele lugar que um dia, ele aprendeu a chamar de lar.