quarta-feira, 13 de junho de 2012

CONTOS DE UM GUARDIÃO – MEU PORTO SEGURO


 E nela encontrou seu porto seguro, sua guia, sua amiga, entendia sua necessidade de viajar, de mudar, de ser ele mesmo, mas também tinha sua vida, sua casa era o paraíso, rodeado dos presentes dos deuses, aqueles que ela jamais teve, mas ao mesmo tempo teve tantos.

Brincavam todos, riam todos e bebiam os dois, ali ele se desarmou e foi feliz por um tempo, todo o tempo que ali esteve, até a felicidade lhe chamar em outro lugar.

Algumas vezes ensinou os segredos de ser um guerreiro a um garoto à porta de sua morada, em outras vezes foi escolhido para transformar uma menina em mulher, e era bom em ambas as coisas, tinha aprendido a ensinar com o melhor professor, se orgulhava disso.

Ela ria de tudo isso, não sentia ciúmes, era o que mais lhe atraia nela, sua segurança, sua certeza de que ele era seu, mesmo quando se deitava com outras, e ela estava certa, não tinha apenas uma dona, mas nenhuma tinha tanta segurança da sua posse. E ela era dele também, não só dele, mas ele era especial, quantas vezes ela saiu dos braços de outro para lhe receber? Inúmeras! Sempre se divertiam com isso, algumas vezes isso lhe trouxe problemas, nada que as espadas não fossem capazes de resolver, mas não sem o custo de sangue.

Nunca se importou com as outras, nem com as que, com prazer, ela o conduziu para exercer seu papel de Deus, nem com as que ele encontrou no seu caminho solitário, ao contrário, se divertia ao lhe ver sofrer de amores ou contar-lhe suas aventuras amorosas e sexuais, não recordava de ter compartilhado tanto com alguém, talvez por compartilhar tão pouco.

Ao seu lado era feliz. Mesmo quando não estava ali por prazer, quando as feridas abertas pediam sua mão agradável e cuidadosa, nenhuma das suas mulheres era tão próxima, tão amiga e tão mulher. A liberdade que sentia ao seu lado o prendia a ela, saber que podia ir e vir quando quisesse sempre lhe deu prazer em ficar.

Contudo, nunca a entendeu, nunca pode lhe dar o presente que ela sempre desejou, os deuses assim não quiseram, mas apesar disto ela parecia sempre feliz, sendo um exemplo de mestra, mãe, irmã, mulher e amiga. Contudo, alguma frustração aparecia em seus olhos, sempre que suas regras voltavam, mês a mês. Ele pedia aos Deuses para atender-lhe o anseio, permitir que dela viesse aquilo que ela sempre cuidou do alheio, talvez não tenha sido lhe dada esta dádiva, justamente para que sua função, a de cuidar, fosse melhor exercida, sem prediletismos.

Sempre que pode e quis, ela o acompanhou em suas viagens e perigos, não de perto o suficiente para se por em risco, mas nunca longe o suficiente para não ser notada, e lhe socorrer, quando preciso, algumas vezes se esconderam juntos, assustados, corações saltando pela boca, sua companhia o salvou diversas vezes, pois seus ferimentos seriam mortais sem nenhum tratamento.

O seu corpo nu era sempre o melhor remédio, dominava a magia sexual como poucas outras e a usava com maestria, acalmava-o com seu corpo, sugava toda sua energia para depois repô-la, funcionava como um perfeito filtro e o casamento entre seus corpos era aquilo que fazia o processo fluir, de forma gradual e saudável, plena.

Mas o inevitável um dia os alcançou, ele era necessário em outro lugar, abandonada ela cuidou daqueles que ainda não haviam aprendido a se cuidar, enquanto ele foi reforçar as fronteiras da sua raiz, seu primo precisava dele, seu amigo e irmão, e assim ele voltou para aquele lugar que um dia, ele aprendeu a chamar de lar.